sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CRÍTICA DE JOÃO PINHARANDA

O filme de Luís Alves de Matos apresenta-nos uma personagem multifacetada.
Lemos é um histórico participante da geração surrealista portuguesa dos anos 40 e 50 do século passado que continuou o seu percurso criativo no brasil das décadas seguintes.
Encarando sempre a criação como experimentação e risco, que soube gerir com profissionalismo e rigor, são decisivas para o auto-conhecimento português os seus retratos de personalidades da cultura nacional como são decisivas para a história do design a sua obra gráfica, para a história do desenho os seus caligramas ou as suas soluções geométricas ou líricas de pintura e aguarela.
Também poeta, usa o valor das palavras para completar a sua operação de desmontagem dos absurdos do real e melhor nos expor as complexidades humanas.
É esta mesma complexidade que passa, na primeira pessoa, pelo filme de Luís Alves de Matos para se fixar na nossa memória e nos desafiar a novas atitudes. Vamos pois poder ouvir e ver os seus poemas ternos e cortantes, inquisitivos e sentenciosos, vamos poder seguir a história de uma fotografia na pessoa da menina que a protagonizou, provando que há um tempo que prossegue dentro da imagem, vamos recordar os episódios do Grupo Surealista e o ambiente opressivo do Portugal de então ou escutá-lo a comentar com os seus familiares a sua influencia na vida de cada um deles e, finalmente, perceber que a vida prossegue dentro dele: livre, interrogativa, solta, acutilante, natural...

João Pinharanda
(curador da mostra dupla "Isto é isto" (desenho) e Ex-Fotos (fotografia), Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva)

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